TORGA, século XXI
Viver neste oceano megalítico, escrito e descrito como Reino Maravilhoso, é estar com Torga todos os dias. Temos terra quente, terra fria, terra granítica, terra xistosa e as montanhas à volta, que definem a escala dos gigantes. Temos as encostas do Douro, com curvas sinuosas traçadas por um rio incansável e minucioso, vestido de prata na madrugada, e de ouro ao entardecer, cujos socalcos representam o domínio resiliente do Homem sobre a Natureza, bordado de trabalho diário extenuante, de labuta diária ensopada em suor e lágrimas.
Torga absorveu a essência dos transmontanos e transformou-a em palavras escritas, retratando-a numa simbiose pautada entre a dureza e a candura, de porta aberta para acolher, convidando com um, “Quem é? Entre”. Nunca se esqueceu de reforçar a dor, a amargura, a integridade, a pobreza desta gente a lutar pela sua sobrevivência diária, numa perspectiva humanista, realista e irreverente, que se converteu em intemporal.
Os tempos mudaram, hoje Torga escreveria de forma diferente, abordaria outros temas não menos violentos, evidenciando certamente as novas alianças irresponsáveis estabelecidas entre o Homem e a Natureza, que põem em causa o planeta Terra e a nossa sobrevivência.
O Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus utilizador frequente deste espaço, tem a honra e o privilégio de homenagear mais uma vez Miguel Torga, nos 25 anos do seu desaparecimento e apresenta ao público, uma mostra do trabalho escolar, desenvolvido numa perspectiva pedagógica, holística, contemporânea e criativa, expressando como Torga está sempre actual nas gerações século XXI, constituindo oportunidade para nos conhecermos melhor e para talhar caminho, para a transliteracia e a geografia da nossa identidade.
Anabela Quelhas – professora bibliotecária.
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